Recife, 25 de março de 1991
Recife, 25 de março de 1991 Prezado professor Arimathéa. Aniversário do querido Márcio, mandei-lhe, juntamente o avô, palavras do âmago do ser, extensivas aos pais. A saudade apertando-me e sobre a sacada do apartamento 202, Edifício Camaçari, em repouso o corpo porém, os olhos inquietos, não me escapam o forte e nítido piscar das estrelas; alguns aviões que passam; árvores extraordinariamente crescidas são embaladas pelo vento; prédios iluminados indicam que abrigam almas e ocupam terras recifenses; Professor, sempre que percorro a rua José de Alencar, toca-me, mais fortemente, uma casa em estilo pirâmide, adornada de intenso verde, complementada com árvores não comuns, fincadas à frente, lembro-me do senhor, não sei se por causa do verde ou por toda inteligência empregada. Todas as cores me são necessárias. Gosto imensamente do vermelho, cor do nosso sangue. Sinto-me agraciada por já ter recebido algumas rosas vermelhas. Lembro-me que o Padre Lauro Trevisan, autor do Poder da Mente, em um de seus cursos, disse: “mais vale receber uma rosa em vida do que mil em morte”. Apesar de ter destacado o vermelho, acrescento, em primeiro lugar, o verde, que me faz sentir terra e o azul me faz sentir a sublimidade do céu. Aliás, professor, já lhe falei assim, anteriormente. O verde e o azul, realidades básicas do nosso viver. Estamos nesta linda terra que também tem seus dramas. Crianças, tornando-se marginais; os rios se poluindo; sujeira em algumas ruas; sustos em virtude de nos arrancarem algum objeto pessoal. Enfim, o lado ruim e penoso por falta de responsabilidade de homens insensíveis. Problema já idoso. Mas eis que me entrego às coisas boas e quando realizo minhas caminhadas costumeiras, na qualidade de anônima, vitalizo meus olhos nas belezas contagiantes; meus pulmões se renovam pelo oxigênio das árvores e do ribombar das ondas do mar; meu espírito ganha mais disposição e vou muito longe; o restante do meu ser vai ganhando razões para o descarrego e reabastecimento necessários; o mar, abaixo, do Céu, beleza mais bela que meus olhos já viram. Enfim, também as pessoas queridas que aqui estão e as que ficaram na terra piauiense. As outras pessoas que não conhecemos mas que as amamos também. São impulsões vitais que nos fazem viver. Almejo, ainda, experimentar outros ares, outros céus e buscar tudo que tenho direito pois Deus é o dono; no brincar com as ondas do mar e provar a elas de que possuo energia capaz. Grande é o anseio de minha alma. Entretanto assusta-me pensar o que encontrarei além das minhas expectativas? Pararei no tempo e no espaço? Não tenho por conseguinte, certeza quanto ao futuro. Tenho, do que posso levar para lá. Creio que devo parar, não porque o senhor não tenha disponibilidade para continuar me dando atenção, apenas porque vou, agora, percorrer as ruas do Grande Recife. Entrar nas suas lindas igrejas, tomar água de côco e saber que ab saudade vai aumentar. Atenciosamente, - Francisca Miriam - * * * .............................................................................................. Do livro “Mensagens para A. Tito Filho”, Edição da autora, Teresina, 1997, páginas 39, 40 e 41. .............................................................................................. © Direitos reservados.
Francisca Miriam
Enviado por Francisca Miriam em 30/07/2011
Alterado em 30/07/2011 Copyright © 2011. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |
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