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Dia 24.2.92, às 7h30min, . . .






             Dia 24.2.92, às 7h30min, a Jéssica ingressou, pela primeira vez, conduzida por mim, na sala nº 02, Jardim I, da Escolinha do Sinopse, 1º Grau, na Avenida Presidente Kennedy. Mostrou-se dócil e algumas vezes, apática. Fiz-lhe companhia e às demais crianças por quase todo o expediente.

             Existe uma boa área livre. As salas destinadas às crianças são pequenas, desprovidas de ventilação. Inexistem janelas. Instalações de aparelhos refrigerados. Instalações sanitárias regulares.

             Em cada criança foi colocado, sobre a blusa, um distintivo, com nome respectivo. Logo, em seguida, foram conduzidas a uma área calçada e acomodadas sobre o solo e assistiram a espetáculo com bonecos manipulados onde figuravam a bruxa malvada e outros personagens. Por que não outro tipo de apresentação, isenta de agressividade? É verdade que muitos riram e afirmaram que gostaram. Jéssica, porém, continuou com expressão séria. Voltaram às salas, em fila, acomodando-se e algumas, inquietas, romperam o silêncio dos que estavam nele absortos. Neste dia encontrava-se a Lílian conosco, a única mãe presente.

             Chegada a hora do lanche, as crianças foram orientadas pela professora Ana Lúcia, portadora de boa dose de psicologia, simpática e sempre de bom humor, no sentido de agradecerem, de cabeça baixa, ao Bom Deus, pelo lanche a ser servido. Após o término do mesmo repetem o gesto.

             Próximo ao final do primeiro expediente verifiquei que a Jéssica encontrava-se com os cílios molhados, sem uma palavra sequer e movimentos calmos. Chamei a Lílian e ambas se abraçaram, resultando num leve desabafo choroso por parte da graciosa aluna.

             No recreio portou-se bem, mostrando-nos suas preferências.

             Após deixá-la em casa a Lílian seguiu para assistir aula do seu curso de Engenharia Civil (para fazê-lo, trabalha no horário noturno e por motivo desse seu emprego teve que permanecer por quatro anos no interior do Estado, tendo, como consequência, atraso do referido curso), Jéssica me diz: - vovó, não faz barulho pois tou muito cansadinha de tanto estudar, - estando acomodada na parte traseira do veículo. Quase dormindo foi levada para o seu aconchego familiar. Tanto a neta como a avó tiveram uma tarde de relax completo, tantas foram as emoções. Estivemos juntas à noite e completou com sono profundo e restaurador.



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             Estávamos presentes no dia seguinte com outros momentos, nos mesmos lugares, brinquedos e sala, porém, outras emoções. Houve uma interrupção para dar lugar a choro incessante e saímos pela área verdejante e beneficiada por outros fatores e, em seguida, voltamos ao lugar de origem. Auxiliei-a no trabalho de pintura e no final do expediente deitou-se na parte traseira do veículo dizendo-me: vovó, anda depressa, mas cuidado: quero minha mãe! Entreguei-a aos pais, valioso tesouro!



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Do livro “Jéssica, Minha Neta”, Edição da autora, Teresina, Gráfica e Editora Júnior Ltda.,1995, páginas 28, 31 e 32.

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Francisca Miriam
Enviado por Francisca Miriam em 15/04/2011
Alterado em 15/04/2011
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