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JÉSSICA, MINHA NETA






             JÉSSICA, MINHA NETA – Musa inspiradora do mais sublime amor, / Tens a sabedoria dos anjos, / Com pouquíssima idade, precocemente dotada, / Poético é teu pedir desculpas, / Não por travessuras infantis, / Mas por seres alvo de humildade. / Sábias desculpas, muito sábias: / Somente aos anjos é dado esse privilégio.


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             UMA PRINCESA – Existe uma bela princesa / Nascida com olhos azuis / Tornaram-se esperança-verde. / Possui vastos cabelos dourados, / Transmite candura exemplar de anjo, / É de grande inteligência portadora. / Nasceu/treze/julho/oitenta e oito. / Do meu jardim é flor viçosa. / Chama-se Jéssica, minha neta. / Além de chamar-se Jéssica, / E de ser minha querida neta, / Também é flor viçosa do meu jardim. / É a mais bonita e a mais completa / Musa inspiradora do mais sublime amor. / És Jéssica: / Milagre que embala minha alma, / Verdade que alimenta meu espírito, / Efeitos benéficos que prolongam minha vida.


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             Por todo o tempo em que a Princesinha Jéssica estava sendo gerada em Lílian, que sentiu fortes enjôos, eu, a futura vovó, as cuidava com desvelo e carinho. Comecei a comprar diversas bonecas, tamanha a certeza de que seria uma linda menina. E a mais importante boneca surgiu. Ao vê-la pela primeira vez  tive o ímpeto de apertá-la de encontro ao peito, não fossem os primeiros cuidados destinados a mesma pelas enfermeiras e médicos do hospital. Acompanhei-a até o berçário e lhe levei as primeiras roupas. Esqueci que Lílian teria que sair do Centro Cirúrgico, tendo se esforçado para tê-la normal, pois continuava a admirar aquela pequena boneca de carne e osso. Passados alguns instantes me refiz da bela surpresa para conciliar-me entre mãe e filha.


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             Durante minha existência coisas boas tem me acontecido, nada igual a realidade: Jéssica, sua forma, sua cor, sua maneira, sua inteligencia nata, seus lindos olhos, hoje esverdeados, seus cabelos dourados que se assemelham aos meus quando jovem, enfim, sua idade precocemente dotada e sua alma e espírito puros são certezas balsâmicas que me prolongam a vida.


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             Vale salientar que quando vou ao seu encontro, ou vice-versa, bem gostaria que o tempo deixasse de ser tempo e somente houvesse prolongamento de nossas presenças. Lembro-me de que, quando a acompanhei nos seus primeiros meses de vida, minhas asas teriam que ter sido mais potentes e ágeis porque não atenderam prontamente a minha ânsia em sempre chegar até a mesma. Quantas vezes tive vontade de banhá-la, incumbência exclusiva do pai. Felizmente muitos fatores me foram propiciados e os aproveitei com muita cautela e amor pleno. Como exemplo, colocar em ordem suas roupas. Trocá-las, complementando, naturalmente, com os cuidados com a jovem mãe. Velar seu sono inocente. Acariciá-la levemente. Acompanhar seus lentos movimentos, que foram ganhando proporções maiores com o correr dos dias. Saber que gostava de tomar leite materno, aconchegar-se a mãe, a avó, aos familiares.


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             Descobri, com a convivência que tenho tido com os netos, que a maioria dos adultos é complexidade real. Crianças são realidades aliviantes, principalmente quando lhes damos carinho e orientação sadia. Foi dito que não devemos deixar morrer a nossa criança para que nós, adultos, não fiquemos indiferentes.


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             Com onze meses de idade, acompanhei-a juntamente com seus pais a várias cidades litorâneas: Fortaleza; Porto Seguro; Salvador; Ilhéus; Natal; Vila Velha; Vitória; Guarapari; João Pessoa; Recife e outras não banhadas pelo mar.

             Em Vila Velha permanecemos em casa da avó paterna da Jéssica – Carolina Breder de Carvalho.

             Em Recife desfrutamos das companhias dos irmãos e cunhada e ficamos alojados na residencia da mana Mirtes.

             Constatei belezas extasiantes, como exemplo o Convento de Nossa Senhora da Penha, que fiz questão em subir a rampa destinada a pedestres, por três vezes, respirando ar gratuitamente saudável, com cheiro de flores silvestres. Avaliar o tamanho das árvores, obviamente verdes, querendo alcançar o azul celeste. E foi no alto, naquele Convento, encravado sobre rochas, olhando as duas cidades ligadas por uma enorme ponte, que rezei como se bem próxima estivesse do Céu. Tudo isso e muito mais não teriam valores inestimáveis sem a presença da Jéssica.

             Em Salvador, no Hotel Bahia, sobre uma das camas, a bonequinha de olhos azuis, na época, deu seus primeiros passos e enquanto dormia, após muita curtição, velando seu sono, olhava pela janela do apartamento que nos abrigava os prédios imponentes; as ruas estreitas, dada a altura que nos encontrávamos e meus pensamentos vagavam e chegavam até o Piauí para encontrar os seres queridos que ficaram, bem como aspirando pelo também crescimento de minha terra natal. E foi no aconchego maior, e na maioria das vezes nossos corações batendo de encontro ao outro, que meus olhos captaram outras belezas e as armazenaram na mente. Não houve cansaço, evidentemente muita disposição e boa vontade, sabendo que não existem momentos iguais. Felizmente muitos foram filmados pela técnica profissional da irmã do Sérgio, Cláudia, e seu instrumento importado, onde a Jéssica figurou como peça principal.

             Minha missão mais forte foi cuidar, curtir e tudo fazer para que a Jéssica desenvolvesse sadiamente e teria sido exatamente assim se não existissem forças contrárias, como exemplo: uma inconsequente dentista colocou seus dedos não lavados à procura de dentes na inocente boca de minha neta e afilhada, acarretando-lhe uma forte infecção. Um pouco a distância, corri para evitar tal gesto, mas não cheguei a tempo. Encontrava-se, a pequenina, em outros braços familiares. Ainda argumentei por que fizera assim. Não obtive resposta, somente o injustificável procedimento.


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             Houve momentos em que as presenças dos netos não nos foram confirmadas, motivos não justificáveis para nós, os avós, e, particularmente, tive que lutar para que a angústia não tomasse conta de mim, não que classifique meu sentimento uma obsessão, mas justamente por não conseguir encontrar justificativas para os embargos: AUSENCIAS FÍSICAS E FLUIDOS ESPIRITUAIS – Indiferentes a nossa vontade, / Marcam-nos ausências vitais, / Escapa-nos a repetição: / “E bonita a sua voz, vovô!” ( Jéssica ) / São mãos e olhos pro alto ( Márcio ); / Dificilmente presenciamos, / Por nos imporem ausências. / Chegam-nos fluidos castos, / Dos anjos de rara beleza, / Suavizam o bater a revelia / Dos nossos reais corações. / Maior é o Poder Supremo; / Nossas latentes certezas, / De não nos prendermos apenas / As matérias, efêmeras e mortais. INCOMPREENSÃO – Por que nos bloqueiam? / Tiram-nos teus anjos, Deus! / Por que nos ditam normas? / Nem a vida nos pertence! / De repente, tudo muda! / Tudo se transforma! / Sonhos não realizados! / Realidades esquecidas! / Dores persistentes! / Lágrimas inúmeras! / Por que, Deus, o embargo? / Tiram-nos teus anjos! / Dão-nos desilusões! Justos seriam sorrisos, / Prolongariam nossas vidas! / Temos tanto pra dar! / Amor fluente! / Disponibilidade assídua! / Sabedoria dos anos, / Pra escutar os anjos! / Ficamos tolhidos, sofridos. / E os anjos, como ficam? / Cremos na Poderosa Força! / Impossível separar-nos / Que não seja só a matéria.

             Naturalmente que muitas transformações maravilhosas e que nunca serão repetidas perdemos lamentavelmente. Não tivemos pois, oportunidade de presenciar, nos filhos, todos os detalhes, porquanto éramos cheios de deveres profissionais. Não existe, por conseguinte, uma avaliação plena das surpresas e espontaneidades que surgem nas crianças em desenvolvimento físico, psicológico e espiritual. Comparo-as aos botões de rosas desabrochando. São impulsos deveras cheios de candura ilimitada; de beleza inconfundível. Somente os sensíveis podem presenciar tamanho espetáculo natural, principalmente quando aposentados e disponíveis.



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             Certa vez estávamos apreciando o Céu iluminado pela luz solar, dentro de uma rede macia estava Jéssica e, ao seu lado, sobre o piso, afagava-lhe os cabelos dourados. Uma rosa vermelha balançava delicadamente em razão do vento e a retirei para presenteá-la, e ela, ao recebê-la, disse-me: por que arrancou a bichinha, vovó? Respondi que a mesma estava pronta para ser entregue a sua legítima dona. Adormeceu afagando-a.



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Do livro “Jéssica, Minha Neta”, Edição da autora, Teresina, Gráfica e Editora Júnior Ltda.,1995, páginas 14, 15, 16 e 17.

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Francisca Miriam
Enviado por Francisca Miriam em 06/04/2011
Alterado em 06/04/2011
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