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Recife, 4 de abril / 91





                                       Recife, 04 de abril/91


             Prezado professor Arimathéa.


             Já estamos planejando nossa volta. Como diz a Bíblia: há tempo para todas as coisas.

             Lembrando de como sempre o senhor me entende e por ter ressaltado o carinho que também tenho e, abundantemente, na qualidade de avó, transcrevo-lhe esta:

             Querida Jéssica, quase trinta dias que não lhe vejo e não lhe escuto. No entanto, minha querida Jéssica, o Rafael me tem amenizado a falta premente que você me tem feito. Evidentemente que a falta de sua energia me está tornando triste. A saudade sufoca-me o peito ardente. Até mesmo o majestoso mar não me apetece tanto quanto antes do seu nascimento. A água de côco, tão gostosa, do Grande Recife, já não me mata a sede a exemplo de outrora. Os prédios, alguns tão altos, já não me fazem levantar a cabeça para constatar a sabedoria do homem. As ruas, não simetricamente traçadas, já não conseguem me reter por muito tempo. As igrejas, algumas mais belas ainda, não me exercem o mesmo poder. O ar já não possui tanto oxigênio. Tudo não é muito mais, somente minha saudade por você, bem como minha parada nesta sacada do apartamento 202, do Edifício Camaçari. Eis que meus olhos se perdem entre as estrelas e até, juntamente ao seu avô, descobrimos várias cruzes. A Estrela Dalva não diminuiu. Aliás, nada que se relaciona com o alto.

             Confio em Deus de que haveremos de continuar nos curtindo intensamente. Nada é impossível para quem ama.

             Creio ter cumprido, tirando as falhas, o que planejei e pedi a Deus que me ajudasse. Procuro ser útil, principalmente, aos que têm contribuído na continuidade da minha vida. Excluindo os demais destaco a mana Mirtes que em nenhum momento me deixou sem o apoio necessário. Aliás, estendido a todos nós.

             Professor, eis desabafos afogados na saudade que dói mas essa mesma é a certeza plena da falta dos nossos entes queridos.

             Saudosa, porém, querendo ir e querendo ficar.


             Francisca Miriam.

                                       * * *

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Do livro “Correspondências de A. Tito Filho para Francisca Miriam”, Edição da autora, Teresina, Gráfica e Editora Júnior Ltda.,1995, páginas 87 e 88.

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Francisca Miriam
Enviado por Francisca Miriam em 26/03/2011
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