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Parnaíba-PI -- 24 de fevereiro/91




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             Prezado professor Arimathéa


             A caminho de Parnaíba, em 24 de fevereiro/91, em que fluem lembranças diversas. O bom cheiro da terra e do que a mesma contém, como exemplo, o alecrim, planta ativa e gostosa, à tenra idade retorna quando me alimentavam os pulmões cheiros, os mais variados, que o solo abriga; nuvens pesadas mostram que também possuem forças e escondem o sol, mas não conseguem estender-se por todo o céu anil; pássaros, a beleza destacada e existencial, volteiam, porque tanto a terra como os céus lhes pertencem. A Jéssica vibrante, em linda idade, com lindos olhos verdes, abundantes cabelos e cachos dourados, acentuada meiguice e privilegiada inteligência; o ar gratuito e amigo; longos caminhos convidativos; crescidas carnaúbas adornam a paisagem; variedades outras fincadas na terra; águas, alimento primordial dos seres vivos e da natureza. Tudo isto e muito mais...

             Chegamos na aconchegante casa de um parente, alugada, na praia do Coqueiro e não me poderia escapar o brilho intenso dos olhos da Jéssica e seu grito puro de criança viva quando, no alpendre da referida casa, constatou a existência do mar, com ondas calmas e, em seguida, maiores movimentos, como a nos dizerem da alegria da nossa chegada; descemos imediatamente e nos envolvemos no belo ribombar das ondas; as nuvens escassas e, à mostra, o céu em sua plenitude; o vento gratuito e abundante; o movimento incansável do mar, às vezes mais forte, prova concreta da certeza de Deus. Por horas ficamos nesse embalo e o frio não foi maior do que a quentura dos nossos sangues e uma noite relaxante e rápida.

             25-2 – Recordo-me, gratificada, do acontecimento sumamente importante na APL, em 23 do mesmo mês, quando foi lançado meu segundo livro de poemas. O importante Amigo obedeceu ao Maior Amigo.

             Não poderia deixar de sentir saudades dos que ficaram em Teresina. Sou família, comprovadamente.

             Durante todo o dia foi uma verdadeira curtição do mar. Intensamente as ondas acariciaram todo meu ser e o da Jéssica. Pois não é que a avó consegue acompanhar a energia da neta?

             O Porto Marítimo inacabado e sem perspectiva de conclusão. Homens desprovidos do bem-querer ficam inertes e a força para o idealizador não será maior.

             26-2 – A música proveniente do mar acalentou-me de algum exagero que o sol nos deixou. Há meses que o mesmo não nos aquecia completamente. Foi aí que seus raios solares nos tostaram a carne e nos fizeram melhor analisar sua importância. Ainda a música maravilhosa do mar nos ninou, a exemplo de criança feliz, sem nunca perder a companhia salutar e terapêutica da Jéssica. Não fossem as coisas ruins que correm à revelia. A guerra, por exemplo, que promete acabar. Já se torna uma esperança que maior calamidade não continue.

             A casa, no alto, coqueiros à frente, completando com o belo mar, já bem falado anteriormente; trabalhadores lançando suas redes à procura de alimento; peixes bonitos deixam de viver e a fome de pescadores é saciada; a água hidratante do côco e a massa gostosa; as nuvens ganham melhor tom prateado, por força dos raios solares; é a beleza que “engrandece e enaltece” a alma; as dunas teimosas; belas casas e outras tão simples; a cor dos olhos de Jéssica e os de minha mãe, encontrada nas águas do mar; a vida pulsando e nós também somos vida.

             Estamos, agora, na praia Pedra do Sal, precisamente às 12h as pedras ganham ar de valentia; é uma abundante prataria endeusada; pedras majestosas e capazes de aguentarem as constantes ondas; a minha companheira inseparável, pequena menina e poderoso anjo, ganhamos as delícias naturais e gratuitas dos céus.

             Lagoa do Portinho, outra realidade relaxante; as dunas avançam, espero não venham por acabar o que construído está.

             Voltamos e novamente nos deliciamos nas águas incansáveis e às vezes mais calmas.

             Professor, perdoe-me pelo papel e pela mudança da caneta, as circunstâncias ambientais não me permitem diferente. Justamente olhando para o mar é que está sendo feita. A primeira caneta esvaziou-se e papel melhor não encontrei nos pontos de venda do local Coqueiro.

             Tendo ainda o que falar mas considerando que a matéria já preencheu boa parte de espaços, muito embora saibamos que vale é a qualidade e não a quantidade.

             Obrigada eternamente por tudo de bom que o senhor me tem feito experimentar.


             Francisca Miriam.

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Do livro “Correspondências de A. Tito Filho para Francisca Miriam”, Edição da autora, Teresina, Gráfica e Editora Júnior Ltda.,1995, páginas 84, 85 e 86.

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Francisca Miriam
Enviado por Francisca Miriam em 25/03/2011
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