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Meninos de Rua - Teresina, 25 de março de 1988.



                                       Teresina, 25 de março de 1988.


             Prezado professor Arimathéa.


             Considerando a sua prestimosa atenção e seu real valor para a nossa cidade de Teresina e de todo o Estado do Piauí, mando-lhe desabafos abaixo expostos.

             Fui vítima da violência de meninos de rua. Assim são chamados. Encontrava-me, pois, em companhia de muitos fiéis, na Igreja São Benedito, participando de um Seminário em Cristo. Em dado momento, aproximaram-se, do interior da mesma, vários meninos. Todos de posse de flanelas. Desprendeu-se um cheiro muito forte. Meus olhos queimavam e eu me sufocava. Constatei ser tóxico. Fiquei pasmada por situação tão desoladora. Entreguei-me à oração, com maior intensidade, por eles. Logo, em seguida, fui atacada por uma menina que me pressionava os dedos da mão esquerda. Seu intuito era tirar-me um anel e aliança. Empreendi toda força e consegui sair, rápido, de onde estava. Verifiquei que o anel e a aliança se encontravam. No entanto, meus dedos doíam, terrivelmente. Por pouco não os quebrou. Passei alguns dias com os mesmos inflamados. Foi terrível o choque de vê-los viciados e ficarmos sem segurança. Sentir, ainda, o horror da violência.

             Dois dias depois, ao passar em frente ao Convento São Benedito, pela Avenida Frei Serafim, olhei para dentro e vi que, após o pequeno muro à frente, estavam alguns meninos semelhantes àqueles. Um deles veio correndo, de cabeça baixa, a fim de coincidir com a minha passagem para, com o impacto, jogar-me ao chão. Voltou, imediatamente, após passar muito próximo de mim. Pede-me dinheiro e logo tenta arrancar-me o relógio e desliza a mão até meus dedos, ainda doentes. Em, razão da pressão tão forte avermelhou-se meu braço. Outra vez empreendi toda força e não foi consumado o intento. Saí às pressas e me desabafei com o Giovanni.

             Ainda, na seguinte reunião, na mesma Igreja, uma senhora grávida foi atacada por um desses meninos. Uma outra, que a acompanhava, reagiu com um guarda-chuva e bateu forte nele, na carne dura. Saiu pulando, feito animal. A senhora grávida se emocionou bastante. Ficamos desapontados.


             Atenciosamente,

             Francisca Miriam.

                                       * * *

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Do livro “Correspondências de A. Tito Filho para Francisca Miriam”, Edição da autora, Teresina, Gráfica e Editora Júnior Ltda.,1995, páginas 70 e 71.

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Francisca Miriam
Enviado por Francisca Miriam em 23/03/2011
Alterado em 23/03/2011
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