Prezado professor Arimathéa.
Prezado professor Arimathéa. Em um dos meus desabafos o senhor me mostrou a bombinha que já carregava no bolso quando lhe faltasse, mais profundamente, o ar. Respirando normalmente, eu também, a exemplo do senhor, fumei por um período de dois anos e fui acometida de bronquite crônica e pneumonia. Felizmente, atendida pelo médico Antônio Moreira Mendes, fui alvo de tratamento rigoroso e à base de muito amor por parte dos funcionários do Hospital Santa Maria, principalmente pelo meu médico assistente, já citado acima, e sua ajudante, chamada por Graça Rufino. Seis meses se passaram nesse tratamento e fiquei totalmente restabelecida. Nunca esqueci todos que cooperaram nesse grande acontecimento de pleno êxito. Ainda foi descoberta minha acentuada alergia quanto ao fumo e outros fatores. O pai, José Aires, teve problema semelhante ao meu, sendo curado por exercícios na base do ar puro e serviço forçado, bem como deixando o hábito de fumar. O filho Giovanni tem tentado, por diversas vezes, deixar de aspirar o ar nocivo do fumo. No momento, parece-me que está mais consciente dos problemas que o cigarro acarreta. O esposo Geraldo também fumou algum tempo e se convenceu dos perigos iminentes e não mais voltou a fazê-lo. O genro Sérgio continua e às vezes deixa, para voltar a repetir o hábito maléfico do cigarro, embora consciente do perigo que lhe ronda. O senhor, a exemplo de nós, também foi fumante e teve seu preço muito alto. Caso o senhor nos deixe, quem lerá minhas cartas descritivas? Quem revisará meus erros analíticos? Quem tão bem me valorizará pelo que sou e pelo que faço? Quem melhor do que o senhor para me compreender e me fazer prosperar? Quem melhor do que o senhor para me apoiar no que tanto gosto, que é escrever e fazer versos? Quem, professor, me olhou tão profundamente nos olhos e me disse que preferia meu retrato com cinquenta anos do que aos quinze, colocados no livro de minha autoria, denominado de Caminhos Ainda? Mas um dizer angelical, de muita ternura e pureza. Ninguém, professor, tenho absoluta certeza de que não encontrarei, a não ser que a sua alma se aloje em algum corpo humano e venha eu a sentir as maravilhas que senti ao seu lado e de sua boa mulher, Delci Maria, sem enumerar outras amizades que desfruto por sua causa. A filha Lílian disse-me, porque eu chorava por seu estado de saúde, que se o senhor fosse embora, eu ganharia mais um amigo no céu. Hoje, dezoito de junho/92, celebrada foi a Festa da Eucaristia e com número expressivo de fiéis, comunguei pela sua recuperação. Espero que no aniversário da Academia Piauiense de Letras, nos seus setenta e cinco anos, seja o senhor o comandante, como sempre, bem como o apresentador do meu terceiro livro. Amém! * * * Um dos meus melhores amigos continua hospitalizado, mais uma vez e gravemente, o indiscutível e comprovado intelectual A. Tito Filho, Presidente da Academia Piauiense de Letras. Tristeza indescritível à minha alma sensitiva. Senhor Deus, obviamente que não quero ir de encontro à Tua vontade. Naturalmente que a doença não é vinda de Ti e por isso é que Te peço para que o meu Amigo não se vá agora, não só porque quero que o mesmo seja o apresentador do meu terceiro livro, revisado por ele próprio, mas porque fará muita falta para todos nós. Crianças de todo o Mundo, juntai-vos à minha e certeza tenho de que sois forças vindas do Cristo. Amém! Partiu o Grande Amigo A. Tito Filho, no dia 23.6.92, no mês do meu aniversário de vida. Embora sabendo-se da eternidade da alma, é difícil aceitarmos a ida definitiva. Prezado professor Arimathéa, mais dias e farão trinta em que não mais ouvimos suas lindas histórias, seu otimismo, sua sabedoria e, sobretudo, sua humildade. Tenho, particularmente, sentido demasiada saudade. Sempre olho seus retratos afixados na minha pequena galeria e me encho, também, de esperança. Espero reencontrá-lo um dia. Acredite que penso convictamente que não o esquecerei. Como poderia, se só encontrei carinho, atenção e muita amizade? Seria uma grande ingratidão. Felizmente acredito não ter testemunhado esse ato abominável. Pedi-lhe que intercedesse junto ao Cristo pela cura da Jéssica, minha neta, pois sempre persiste a bronquite e reincidência de pneumonia. Felizmente a Lílian a soltou mais e eu a trato orientada pelos seus fluidos, com certeza. Tudo realiza milagrosamente. O senhor me ouviu que me lamentava pelo fato de não ter liberdade de tratá-la como está acontecendo agora. Pensei até em me afastar, embora sabendo que não seria melhor e nem seria por vingança, apenas o meu sofrimento estava grande demais ao sabê-la necessitada de mim. O bloqueio era evidente. Testemunho, pois, que o senhor operou o milagre, porque pedi-lhe e aconteceu exatamente. Obrigada, professor, e continue velando por nós. Na noite que o invoquei para que a Jéssica não viesse a perecer por falta de ar, tamanha a situação precária que se encontrava, sonhei com toda sua agonia por falta de ar até não mais resistir. Recebi como um sinal de que a Jéssica não haveria de passar a exemplo do senhor e desde lá só tem melhorado. Espero que não mais me impossibilitem de tratá-la. * * * .............................................................................................. Do livro “Correspondências de A. Tito Filho para Francisca Miriam”, Edição da autora, Teresina, Gráfica e Editora Júnior Ltda.,1995, páginas 07-08-09. .............................................................................................. © Direitos reservados.
Francisca Miriam
Enviado por Francisca Miriam em 15/02/2011
Alterado em 15/02/2011 Copyright © 2011. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |
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