[ Jornal ] O DIA
TERESINA/PIAUÍ – DOM./SEG.-FEIRA, 09/10  DE MAIO DE 1993.
[ Página ] 7


(À minha avó Maria Carvalho do Vale (NENÊN), pelo Dia das Mães) – Giovanni Aires Fernandes.


Era um lugar mágico para mim. Os grandes portões de madeira; os carros parados; peças; ferramentas; o cheiro de óleo misturado com gasolina; as paredes enegrecidas pela fuligem e pela graxa.

Adorava brincar dentro dos automóveis, imaginando dirigi-los, apostando corrida com motoristas inexistentes ou fazendo longas viagens por cidades distantes e estranhas.

Observava meu avô, na sua labuta diária, a consertar todos aqueles carros, deixando-os como novos. Era um grande mecânico. Aprendeu, na prática, após muitos e muitos anos de trabalho. Eu tentava aprender com ele, mas ele não me estimulava. Talvez não me quisesse a trabalhar como mecânico.

Próximo à oficina ficava a casa de meu avô. Outro lugar que, apesar de tanto tempo, eu não esqueço. Era imensa e cheia de mistérios aos meus olhos. Tinha o mais belo jardim do mundo, com árvores variadas e belas palmeiras plantadas por meu avô. Recordo ainda do dia em que ele as plantou.

Como era bom brincar com todas aquelas plantas, colher as flores e procurar insetos pelo chão. Mas o melhor momento era quando todos se reuniam para o almoço. Juntavam-se tios, primos e outros parentes para saborear a melhor comida que eu já experimentei na vida, feita por minha avó.

Hoje, tudo não passa de recordações de um tempo que não pode mais voltar. Tanto a casa quanto a oficina foram vendidas e demolidas. No lugar da oficina surgiu um depósito de artigos comerciais e onde era a casa é agora um prédio de escritórios.

Meu avô morreu já há alguns anos e hoje eu tenho um filho que se chama João.



[ NOTA DO EDITOR (no RdL) : “João” era também o nome do avô paterno. Giovanni Aires Fernandes, autor deste texto, é filho da escritora e poetisa piauiense Francisca Miriam. ]


© Direitos reservados.