22/08/2021 14h38
: Muito boa tarde. Hoje, domingo, 22 de agosto (de 2021), é Dia do Folclore Brasileiro e também Dia da Educadora Especia
: Muito boa tarde. Hoje, domingo, 22 de agosto (de 2021), é Dia do Folclore Brasileiro e também Dia da Educadora Especial / Dia do Educador Especial. Uma das várias manifestações do rico folclore brasileiro são as lendas. E uma das lendas mais conhecidas do Piauí é o Cabeça de Cuia e em Teresina, também a lenda da Num Se Pode. Cabeça de Cuia é um mito da Região Nordeste do Brasil, mais precisamente contado no estado do Piauí, ao longo da bacia do Rio Parnaíba. Há várias versões de lendas que envolvem a figura do Cabeça de Cuia. Em uma das lendas mais difundidas trata-se da história de Crispim, um jovem pescador que morava às margens do Rio Parnaíba. De família pobre, Crispim vivia sozinho com a mãe, enfrentando adversidades por conta da escassez de peixes no Rio em época de enchente. Segundo esta lenda, certo dia Crispim saiu cedo para pescar, mas não obteve êxito em sua empreitada. Sua mãe, compadecida com a situação, pediu à vizinha algo para que pudesse fazer o almoço de seu filho. Porém, a única coisa que lhe foi oferecido foi um osso de boi, um chamado (osso) "corredor", com o qual a mãe de Crispim fez uma sopa rala, sem carne, com o osso apenas para dar gosto à água, misturada com farinha. Ao voltar cansado e frustrado da pescaria, Crispim se revoltou ao ser servido com aquela sopa de osso. Em meio ao clima conflituoso de discussão, ele atirou o osso contra a própria mãe, atingindo-a na cabeça e matando-a. Antes de morrer, a mãe lançou uma maldição em Crispim, transformando-o num monstro. Tomado pela culpa de ter matado sua mãe, Crispim, desesperado, põe-se a correr. Enquanto corre, sua cabeça começa a crescer como uma enorme cujuba. A partir de então, ele ficaria vagando entre os dois rios que percorrem longos quilômetros e se encontram em Teresina. Sua sina é vagar seis meses pelo Rio Parnaíba e seis meses pelo Rio Poty. Segundo a lenda, Crispim só será libertado da maldição quando conseguir devorar sete Marias virgens. Alguns moradores de regiões ribeirinhas afirmam que o Cabeça de Cuia, além de procurar as virgens, assassina os banhistas do rio e tenta virar embarcações que passam por ali. Outros também asseguram que Crispim ou o Cabeça de Cuia procura as mulheres por achar que elas, na verdade, são sua mãe, que veio ao rio Parnaíba para lhe perdoar. Outra versão do mito do Cabeça de Cuia o tem como um guardião das águas dos rios Parnaíba e Poty, considerando que os antigos habitantes indígenas do Piauí possuíam culto a figuras do gênero, posteriormente demonizadas pelos colonizadores. Na mitologia piaga, considera-se que o Cabeça de Cuia é amigo dos que respeitam os rios, mas pode se tornar agressivo aos que profanam suas águas. Em seu livro "Cabeça de Cuia: monstro ou ET?", o escritor Reinaldo Coutinho conta vários relatos populares envolvendo diferentes faces deste mito, incluindo versões em que esta entidade se apresenta de maneira mais amigável. No livro "Passarela de Marmotas", Fontes Ibiapina também apresenta seus estudos sobre o mito. Câmara Cascudo, folclorista potiguar, também cita o Cabeça de Cuia em sua obra "Geografia dos Mitos Brasileiros". A Prefeitura de Teresina instituiu, em 2003, o Dia do Cabeça de Cuia, a ser comemorado na última sexta-feira do mês de abril.
A LENDA DA "NUM SE PODE" (Lenda teresinense)
A personagem do folclore teresinense “Num-se-pode” já foi a inspiração para diversos artistas e estudada como manifestação da cultura popular. A lenda aparece neste trecho da Tese do pesquisador Raimundo Nonato Lima dos Santos, que destrincha uma das músicas do Grupo Candeia:
“A música “Num-se-pode”, composta por Zé Rodrigues e Rubeni Miranda refere-se a uma das lendas urbanas de Teresina, ambientada no início do século XX, período em que a iluminação pública era constituída por postes com lampião a gás 39 . Num-se-pode À meia-noite, sem ser lobisomem Num-Se-Pode é assombração Ela me pede um cigarro sorrindo Como quem quer pegar na minha mão Ela me pede o meu fogo sorrindo Mas eu não quero aproximação No pé do poste é moça bonita Mas se estica até o lampião Assusta até os cabra macho do sertão Assusta até os cabra macho do sertão Num-Se-Pode pode ser que seja Uma donzela de bom coração Num-Se-Pode pode ser que seja Desencantada por uma paixão Num-Se-Pode pode ser que seja Talvez a dona do meu coração. (GRUPO CANDEIA, 1986)
Essa lenda conta a história de uma linda mulher (“No pé do poste é moça bonita”) que, tarde da noite (“À meia-noite, sem ser lobisomem”), aparecia na Praça Saraiva (ou poderia ser qualquer outra praça da cidade) ostentando sua beleza debaixo de um dos lampiões ali existentes. Movidos pela surpresa daquela bela aparição, uma vez que as moças de família não poderiam andar desacompanhadas tarde da noite 40, os homens se aproximavam para conversar ou, quem sabe, aventurar mais uma conquista com aquela donzela perdida (“Num-Se-Pode pode ser que seja / Uma donzela de bom coração”) ou mesmo uma nova prostituta que estaria fora da zona do meretrício da Rua Paissandu 41. Ao chegarem perto, a linda mulher pedia-lhes um cigarro (“Ela me pede um cigarro sorrindo / Como quem quer pegar na minha mão”), e quando recebia começava a crescer, até atingir o topo do lampião de gás e nele acender o cigarro (“Mas se estica até o lampião”). Enquanto crescia, ela repetia uma ladainha assombrosa: “num-sepode, num-se-pode, num-se-pode…” Aquele alongamento sobrenatural do corpo assustava todos os homens, até os tidos como valentes (“Assusta até os cabra macho do sertão”) e, por isso, na versão musical do Grupo Candeia, o narrador personagem confessa que estava se envolvendo naquele jogo sedutor (“Ela me pede o meu fogo sorrindo”), mas percebeu que aquela mulher era muito diferente das outras, que não poderia estar viva (“Num-Se-Pode é assombração”), daí porque ele se constrange com sua temeridade, que não condizia com a virilidade masculina da época 42, mas prefere manter sua integridade física (“Mas eu não quero aproximação”). Apesar da dramaticidade trágica dessa lenda, onde homens poderiam literalmente morrer de susto com o alongamento sobrenatural do corpo da jovem Num-se-pode, o Grupo Candeia influenciado por seus estudos de música modal medieval, resolveu dar um final possivelmente feliz a essa história. Isto é, imbuídos nas histórias de reis, rainhas, príncipes, princesas, bruxas e encantamentos, eles sugeriram que Num-se-pode poderia estar agindo daquela forma por causa de alguma maldição. Portanto, ela poderia ser vítima e não vilã. Assim, caberia a um “príncipe encantado” salvá-la daquele terrível destino por meio de um amor sincero (“Num-Se-Pode pode ser que seja / Desencantada por uma paixão”), que também poderia ser a salvação deste “príncipe”, pois naquela assombração estaria escondida a mulher de sua vida (“Num-Se-Pode pode ser que seja / Talvez a dona do meu coração”).
Publicado por Francisca Miriam em 22/08/2021 às 14h38
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